Wednesday, February 29, 2012

Dossier: Directores dos Museus: opinião de João Neto, presidente da APOM

Dossier: Directores dos Museus: opinião de João Neto, presidente da APOM: O pporto perguntou a alguns profissionais de museus e professores do sector, o que pensam sobre este tema,

Monday, February 27, 2012

Património Cultural Imaterial




Sinfonia Imaterial
Publicado em 27/02/2012 por Ana Carvalho

© INATEL

Na passada sexta-feira, dia 24 de fev (2012)., o filme Sinfonia Imaterial (de Tiago Pereira), que se encontra em digressão desde 2011, foi apresentado no contexto da Pós-Graduação de Património Cultural Imaterial da Universidade Lusófona (Ler mais sobre o curso aqui).

Para além das emoções que o filme suscita dá-nos a conhecer a imensa diversidade do nosso património, que se revela em muitos casos surpreendente. Não pretendendo um levantamento exaustivo de todo o património oral e musical, o filme permite perceber que este é um campo de infinita descoberta e que questiona muitas ideias preconcebidas sobre o nosso património. Por outro lado, o filme deixa transparecer que em muitos casos as ligações dos jovens às tradições ainda prevalece, contrariando a ideia generalizada de uma ruptura entre a tradição e a modernidade. As recolhas realizadas no âmbito deste filme deixam um lastro de curiosidade, uma espécie de convite a conhecer um Portugal claramente diverso e que não está valorizado. Para além disso, o filme parece confirmar também a ideia de que o Património Cultural Imaterial é de facto uma fonte de inspiração para a construção do presente e de novas identidades num mundo em transformação.

Sobre o filme:

“Um registo das práticas musicais de tradição oral portuguesa, que estão vivas e que prevalecem nas várias regiões de Portugal continental e ilhas; os ritmos mais raros e relevantes, o desempenho das vozes e talentos amadores num concerto único.”

“Sem voz-off ou entrevistas, o filme documenta o património oral e musical, recolhendo as práticas existentes de norte a sul do país incluindo ilhas, descobrindo a riqueza rítmica de cada paisagem sonora e explorando a ideia de um Portugal culturalmente diversificado.”

O filme foi encomendado pela Fundação INATEL (ONG reconhecida pela UNESCO como perita no âmbito da Convenção para a Salvaguarda do Património Cultural Imaterial).

Livro: Os Museus e o Património Cultural Imaterial


Livro: Os Museus e o Património Cultural Imaterial
Posted on 13/02/2012


Lançamento de livros, congresso Local Vocabularies of “heritage”
Universidade de Évora, 9 Fev. 2012
© Ana Carvalho

No passado dia 9 de fevereiro foi apresentado o livro “Os Museus e o Património Cultural Imaterial: Estratégias para o Desenvolvimento de Boas Práticas”, que acaba de ser publicado pela Universidade de Évora (CIDEHUS), através das Edições Colibri. O lançamento teve lugar na Universidade de Évora no âmbito do congresso internacional Local Vocabularies of “Heritage”. A apresentação coube a Filipe Themudo Barata e a Ana Carvalho, autora do livro.

TRADIÇÕES LIGADAS AO CARNAVAL As cegadas e o «enterro do chouriço»





O «enterro do chouriço»

A seguir ao Carnaval, na 4ª feira de cinzas, cumpre-se a tradição do Enterro do Chouriço.
No Concelho de Loures, à semelhança de outras regiões, o Carnaval tradicional era marcado pelas cegadas, danças e o «Enterro do Entrudo», «Enterro do Bacalhau» ou, como no caso de Vila de Rei (ver imagens)o «Enterro do Chouriço».
Hoje em dia, em várias freguesias do Concelho ainda se cumpre a tradição, quer no que diz respeito às cegadas e ao Carnaval, quer no que diz respeito ao Enterro do Chouriço. Tal é o caso das localidades da Bemposta, com a celebração de cegadas e Vila de Rei, com o «Enterro do Chouriço».
Manda a tradição que, no ultimo caso, os homens saiam à rua vestidos de mulher para carpir a morte do «chouriço». As personagens femininas representam a esposa, a filha e restantes parentes e amigas mais próximas do «defunto». Há também a figura do sacristão, do prior e do coveiro, e todos vão cantando uma lengalenga a propósito do defunto, e gritando impropérios de cariz brejeiro à medida que o cortejo fúnebre vai andando pelas ruas da localidade, pela noite dentro. Outra das tradições ligadas ao Carnaval é «deitar as pulhas», que consistia em subir a uma colina perto de uma localidade, à noite, ou ao alto de um moinho velho e gritar indiscrições, em forma de verso, a respeito de raparigas solteiras ou maledicências a respeito de algum vizinho. Estas pulhas eram acompanhadas pelo toque de um búzio ou um corno de boi, de modo a ouvirem-se bem à distância, estando os «acusadores» bem encobertos pela noite.
No dia do enterro do Entrudo (4.ª Feira de Cinzas), fica-se a velar o “morto” durante todo o dia e à noite faz-se o enterro. O morto, um boneco em palha, é colocado dentro de uma «urna» e ficam ali uns quantos sujeitos vestidos de preto, que vão gritando como se fossem seus familiares. No final do cortejo, o boneco é queimado. Tudo isto é acompanhado de gargalhadas e piadas geralmente de cariz erótico. É costume também a apresentação de uma representação teatral relatando os últimos dias de vida do «defunto»,com a leitura do seu «Testamento».


Como refere Ernesto Veiga de Oliveira “ (…) No Sul de um modo geral temos notícia, em relação a vários lugares – Sesimbra, Ourique, Odemira, etc. – das “paródias” ou “cegadas” de Carnaval, que por vezes figuram acontecimentos cómicos ocorridos a alguém durante o ano, e servem de pretexto para os participantes proclamarem a respeito de todas as pessoas aquilo que não se quer que se diga. (…) “
As Cegadas, tal como as “pulhas” ou os “testamentos” são uma das muitas formas de crítica social, que revelam o sentido satírico e humorístico do nosso povo, num cenário de celebração cíclica, bem característica entre nós – O Carnaval.
As Cegadas em Loures, cujas origens se perdem na memória dos mais idosos, são ainda hoje motivo de convívio e de festa da população mais rural do Concelho. Em regra as Cegadas, constituem «peças teatrais» com um carácter predominantemente brejeiro, exibidas em colectividades locais e são representadas por grupos constituídos por quatro a seis elementos (tradicionalmente todos homens) durando não mais que uma hora.
Os textos, que tanto podem abordar temas locais, como de âmbito mais geral, são normalmente encomendados a pessoas de fora do grupo, ou da localidade ou fora dela, que têm por hábito escrever cegadas, no entanto, por vezes são também feitos por pessoas do próprio grupo.

A característica mais importante da cegada é o facto de ser uma oportunidade para, estando disfarçado dos pés à cabeça, «gozar» com personalidades da vida pública que normalmente se respeitam, pregar partidas e até mesmo criticar o governo ou os governantes.
Por isso, nos anos 60 do século XX, o nosso governo proibiu as cegadas (por causa das críticas políticas, que na altura não se podiam fazer). Este foi o tempo das «grandes cegadas», porque, justamente por serem proibidas, levou a que a tradição reacendesse!

A origem das cegadas
Existiram vários tipos de cegadas, não existindo uma data rigorosa para o seu aparecimento. Podemos no entanto apontar para a década de 1880 o aparecimento dos espectáculos de rua em Lisboa, cantados em tom maior; o fado corrido. Nessa altura, as Cegadas não eram mais que críticas cantadas em verso, dos costumes burgueses e das lutas políticas da altura. Nelas participavam sempre 4 homens, que encarnavam personagens fixos: A mulher do lupanar (prostituta de bordel), cantadeira e mulher de vida fácil, conhecedora dos segredos íntimos dos clientes da burguesia e da política, o Janota (ou pagantes), caloteiro que só pagava quando a sua «protectora» o financiava e lhe pagava as dívidas por medo do escândalo e da exposição social, o polícia, ignorante buçal que tanto mantinha a ordem como a provocava conforme o dinheiro que lhe dessem e finalmente o Galego, figura tão típica da cidade de Lisboa durante décadas. Foram muitos os galegos que emigraram para a nossa capital, fazendo todo o tipo de trabalhos que todos rejeitavam. Muitos conseguiram «subir na vida» e estabeleceram-se na cidade, onde ainda hoje existem muitos cafés e restaurantes que derivaram de carvoarias e tabernas desses galegos estabelecidos que conseguiram ter sucesso na vida. Durante os três dias do Entrudo, estas personagens actuavam nas ruas de Lisboa e os mais afortunados assistiam de «bancada», das suas janelas a essas fadistices. Como nem sempre o repertório era do agrado do auditório e havia sempre alguém que se ofendia, geralmente acabava em pancadaria! No final, os quatro «actores» diziam a frase: «Cinco reis, dez reis, tudo é dinheiro». Com o tempo, talvez pela constante violência com que inevitavelmente estas cegadas acabavam, muitas vezes com carga policial, ou porque o fado entretanto se tornou mais polido, as cegadas foram adquirindo um carácter mais dramático e passaram a contar situações histórias em tom menor. Serviam de tema; o drama de D. Inês, o regresso por entre o nevoeiro de D. Sebastião e o exílio de Camões.
Quando a República passou a ter os seus adeptos Marx e Lenine passaram a ser lidos e as cegadas adquiriram uma conotação fortemente política, servindo também de campanha para a sensibilização da opinião pública para a queda da Monarquia. O Fado serviu, uns anos antes da queda da Monarquia em 1910, como canção revolucionária. A atestar esta afirmação, João Black, socialista republicano que começou a cantar em 1893, deslocava-se várias vezes ao Alentejo para cantar os seus versos alexandrinos políticos, aos quais ele chamava «canções ao domicílio»! Faz lembrar as campanhas políticas
As cegadas eram a maior diversão popular nos finais do séc. XIX e até meados de 1926 constituíram a diversão de rua máxima da gente humilde.