Eu não tinha este rosto de hoje,
assim calmo, assim triste, assim magro,
nem estes olhos tão vazios,
nem o lábio amargo.
Eu não tinha estas mãos sem força,
tão paradas e frias e mortas;
eu não tinha este coração
que nem se mostra.
Eu não dei por esta mudança,
tão simples, tão certa, tão fácil:
-- Em que espelho ficou perdida
a minha face?
Vem Lua, vem! Retira
as algemas dos meus braços.
Projeto-me por espaços
Vazios, perdida...
Tudo mentira! Mentira...
De afagos na noite escura...
E quedo-me de olhos fixos
Cheios da tua Figura.
Não te encontro, não te alcanço...
Só...
desprendo-me do balanço
que além do tempo me leva.
Só...
na treva fico:
recebida e dada!
Porque a vida, a vida, a vida,
a vida só é possível
reinventada.
E será reinventada...
noutra mentira de noites de afagos!
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